Justa e merecida homenagem

Militantes do SUS e integrantes dos diversos coletivos de saúde pública se reuniram no CS Vila Ipê para celebrar a vida da médica Haydée Lima

 

A emoção marcou a “justa e merecida homenagem” prestada por militantes do SUS à médica sanitarista Maria Haydée de Jesus Lima, domingo, no Centro de Saúde Vila Ipê. Apesar do número restrito de pessoas, em cumprimento às normas sanitárias de controle da pandemia de covid-19, os familiares, amigos (as), profissionais da saúde, integrantes de coletivos do setor, se reuniram nessa homenagem à médica citada como referência na defesa do SUS, sistema que ajudou a criar em Campinas, e do modelo de atenção básica de saúde. “Mas que uma homenagem à Haydée, esta é uma homenagem à saúde pública, ao SUS”, foi uma das frases citadas pelos participantes, todos com uma história que remete à generosidade, alegria, dedicação e entusiasmo sempre presentes nas ações de Haydée, que não media esforços para dar humanidade ao serviço no cuidado com os usuários.

Celebração Haydee

Na celebração foi feito também um minuto de silêncio pela morte do  médico e ex-deputado Carlos Neder, ocorrida no sábado 25, vítima de Covid-19. “Carlos Neder, como Haydée, é uma grande referência à saúde pública, ao SUS, à vida”, disse a mestre de cerimônias, a médica sanitarista Maria do Carmo Carpintéro, conhecida como Carminha. 

Nayara Oliveira, presidenta do Conselho Municipal de Saúde e integrante da comissão organizadora do evento destacou o legado deixado por  Haydée. “O mais importante da gente fazer essa celebração, prestando essa homenagem é justamente por conta do legado que ela deixa pra todo mundo, para nós que tivemos o privilégio de conviver com ela, e para as novas gerações de construtores do SUS. Isso foi muito pontuado durante a atividade, por diversas pessoas, de diferentes formas”, afirmou.

“Para mim a celebração foi principalmente um resgate e quase como se estivéssemos descontando não termos podido nos despedir da nossa amiga da forma que gostaríamos”, disse Carminha.” Resgate pois foi feito no local em que ela passou 15 anos de sua vida profissional. Resgate da sua história, de seu legado, da sua importância para aquela unidade que agora tem o seu nome, para as pessoas que trabalhavam ou trabalharam e para a população que era atendida por ela. Sua importância para a saúde de Campinas e para o SUS como um todo”, observou, lembrando que não houve encontros em seus últimos dias, no seu velório e enterro. “Precisávamos encontrar a família, mãe, irmã, filha e filho, netos e neta. Encontrar e abraçar, mesmo que não como gostaríamos mas estar perto desses familiares e dos amigos mais próximos.”

Segundo Carminha é importante celebrar e fazer esses resgates. “É a forma de encontrar forças para continuar lutando, reaprendendo dia a dia com o que ela nos deixou, buscando formas de resistir contra os que querem destruir o SUS e que tratam a saúde como mercadoria. O encontro buscou apontar para todes que participaram virtual ou presencialmente, uma saída de amor para esses tempos sombrios e, como bem disse sua filha: "E que a gente saiba amar o outro, o tempo todo, com dedicação, com vocação, como ela fez. Porque o amor à vida gera amor à vida."”

Para o pediatra e sanitarista Roberto Marden Faria, “Haydée é uma figura icônica da saúde pública campineira”. Ele lembra que ela chegou em campinas em 1978/79, para coordenar o Centro de Saúde Aurélia, que na época pré-SUS era do Estado. Na época já se envolveu com o movimento sanitário que preconizava o SUS. “Em 1990, os serviços estaduais e federais foram municipalizados e ela que era do Estado passou a atuar no município e construiu junto com os movimentos populares e os trabalhadores da prefeitura, o sistema público de saúde de campinas. Ela foi, senão a mais, uma das profissionais mais importantes na criação do SUS”, avaliou. Citou que Haydée participou da criação de modelos teóricos de atenção primária e ficou dois anos como diretora de Saúde. “Mas decidiu que não era pra ela, queria mesmo era atuar na ponta, testando as teorias que ajudava a desenvolver”. Entre essas teorias, um destaque é a questão do acolhimento, o vínculo, o acompanhamento do usuário, o atendimento de forma humanizada. Segundo Marden, Haydée era tão coerente com suas posições, que nunca teve convênio médico, era atendida pelo SUS. “Apesar de não ter vínculo com a academia, ajudou a formar inúmeros sanitaristas e pediatras no País. Vai deixar uma saudade imensa e uma lacuna difícil de ser preenchida”, completou.

A celebração começou com o descerramento de uma placa em homenagem à médica e o plantio de um ipê amarelo. O evento foi realizado na área externa da unidade de saúde, com todos os participantes usando máscaras e cadeiras dispostas com distanciamento, conforme as orientações sanitárias.

A celebração foi gravada pelo coletivo Socializando Saberes, e pode ser assistida em seu canal no youtube e  na página do facebook do Conselho Municipal de Saúde.